Eu sou a filhinha da mamãe. Ponto. E sou a filhinha do papai também. Sinto muitíssimo por quem não é, mas eu sou. E agradeço todos os dias por isso. A saudade dói todos os dias, mas em datas comemorativas dói mil vezes mais. Em mim e neles. Mas mesmo doendo, eles são sempre os primeiros a me dizer para voar e ganhar o mundo.
Meus pais formam o casal mais unido que eu já vi: ele é doido por ela e ela é doida por ele. Por isso é difícil falar de um sem falar do outro. Mas como hoje é o segundo domingo de maio, vou focar na dona Márcia.
Existem milhares de coisas que eu amo e admiro na minha mãe. Algumas delas estão intrinsecamente relacionadas ao fato dela ser minha mãe: por exemplo, ela é umas das pessoas mais amorosas que já pisou nesse mundo. Eu sempre me senti muito amada.
Ela é minha força e minha segurança. Eu confio cegamente na sabedoria dela, não sou uma pessoa de pedir conselhos, a não ser para ela. Minha mãe acolhe meus amigos como se fossem filhos dela.
É para ela que eu ligo quando uma coisa boa acontece, é para ela que eu ligo quando preciso de colo. Eu, que tenho muita resistência em demorar fraqueza, na presença dela choro como a criança que um dia fui. Minha mãe me ensinou que ficar triste faz parte da vida, e ao mesmo tempo que ela quem enxuga minhas lágrimas, e em algum momento ela vai dizer:
-Agora é hora de se recompor e seguir em frente, a vida continua.
Ela me ensinou a nunca deixar a peteca cair, mesmo que por mil vezes quem segurou a peteca (e a onda, e a minha mão) foi ela. Se ela está do meu lado nada cai, nem a peteca, nem eu. E ela está sempre do meu lado, mesmo com um oceano de distância.
E além de tudo isso, existem outras milhares de coisas que eu admiro nela que são independentes do nosso laço sanguíneo. Independentes do gato dela ser a melhor mãe do universo (desculpa, mundo). São coisas que eu admiraria mesmo se não fossemos mãe e filha. Eu sempre fico feliz quando ouço que somos parecidas. Eu queria ser ainda mais.
Ela nunca faz nada pela metade, nunca faz nada mal feito. Se não for pra fazer direito, ela nem faz. É tudo sempre feito da melhor forma possível. Sempre. Sem exceção.
Minha mãe está sempre dois, três, mil passos a frente do mundo. Nós, meros mortais, estamos em 2023. Dona Márcia já está em 2050. A gente está indo com a farinha e ela já está voltando com o bolo (de chocolate) pronto.
Por exemplo: anos atrás ela me disse:
-Rachel, você precisa estudar francês, você vai amar estudar na França.
E eu fui, já que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. E ela estava certa, demostrando pela milésima vez que eu sempre devo escutá-la.
E tudo o que aconteceu depois deriva dessa conversa: se eu aprendi francês, fui para ficar “um ano” na a França, decidi fazer o mestrado, vim para a Bélgica… Tudo isso se resume naquele momento. Se eu estou aonde eu estou, é por causa não somente do apoio incondicional que sempre tive dela, do meu pai e da minha família, mas também por causa de uma ideia que ela plantou. A ideia de que eu poderia ser o que eu quisesse, e que eu poderia estar aonde eu quisesse. E estou, embora hoje tudo o que eu queria era estar lá.
Minha mãe é semente, é solo fértil, é água e sol. Todos os dias são dela.