Reflexões no aeroporto

Já faz um tempo que eu me tornei aquela que “mora fora”.

Eu sou mineira. Bem mineira mesmo, daquelas cujo pão de queijo é religião. Eu conheço minhas raízes, as carrego no peito e me orgulho delas.

Até que meus caminhos me levaram ao Pará, aquela terra quente com as pessoas mais calorosas que já tive a honra de conhecer. Misturei “uai” com “égua”, conheci realidades que antes me eram alheias e as fiz minhas. Cresci. Mas já não morava mais tão fora, lá se tornou meu lar. Paraense faz todo mundo se sentir casa.

Há pouco que vim pra França, eu e minha mineirice com notas amazônicas novamente “morando fora”. O atributo de “estrangeira” emana de mim como uma aura que é quase palpável. E eu continuo orgulhosa, não só das minhas raízes, mas de tudo o que me construiu pelo caminho.

Cresci mais, estourei a bolha, criei laços, vivi, moro fora. Sigo trilhando meus caminhos, embora por muitas vezes eu tenha pisado sem ter certeza de que o chão era firme. Tenho ótimas histórias para contar, mas durmo em uma casa que ainda não reconheço como minha, mas ainda tenho tempo. De todos os lugares por onde passei levei algo comigo, e deixei um pedaço de mim. O preço que eu pago por isso é a sensação de que eu nunca serei inteira novamente.

Hoje sigo o clichê de que lar não é um endereço, e sim alguns nomes. Eu não chegaria em lugar nenhum sem minha família, meus amigos e meus amores. Uma pessoa que me é muito querida me disse para vir sem olhar para trás, porque é para frente que se anda. Eu pretendo seguir este conselho. No entanto, levo comigo um espelho, para ver quem me tornei e para espiar os meus lares, aqueles para quem eu sei que posso voltar.

Enquanto isso, sigo me construindo

Publicado por Rachel Pinto

Mineira que viveu no Pará, brasileira que viveu na França, depois mee Bélgica. Levo comigo um pedaço de cada lugar por onde passei.

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